Assine nossa newsletter:

    Curioso felino

    Por: João Marcos Rosa

    7 de junho de 2020

    Curioso felino

    Estacionamos o carro às 6h da manhã e o dia ainda estava escuro. O frio e o vento da Patagônia anunciavam que nossa tarefa não seria tão fácil quanto imaginávamos. Uma garrafa de água quente e um pote de café solúvel trouxeram um certo alento naquele momento de ansiedade.

    Começamos a caminhar pela estrada e não tardou muito para ouvirmos no rádio a notícia que nos trazia de tão longe: pumas! Adrenalina tomando conta do sangue, um check-list mental do equipamento e das configurações da câmera e a última respirada profunda antes de começar a subida da ladeira. Na carcaça do guanaco ainda pudemos ver a mãe, tentando esconder o que poderia ser seu jantar mais tarde. Os filhotes anunciados pelo guia que observava de uma outra posição não davam ângulo para que os avistássemos.

    Parque Nacional de Torres del Paine. Foto: João Marcos Rosa/Nitro Imagens

    Descemos a montanha que nos levou à carcaça e fomos para a estrada, apostando nossa sorte que cruzariam por ali. Alguns minutos mais tarde e bingo! A mãe puma cautelosa, inicia a travessia da estrada, seguida por seus dois filhotes. Nossa presença, a cerca de 100 metros da cena, pareceu não trazer nenhum interesse para eles que não viraram seu olhar para nós em nenhum momento.

    O itinerário dessa família era conhecido dos trackers, que já a acompanhavam há alguns dias. Cruzariam a estrada e desceriam para as pedras à beira do lago, em busca de abrigo contra o vento frio. Eram 8 da manhã e nossa jornada estava apenas começando.

    Depois de observar que a família tinha se abrigado por trás de algumas pedras, seguimos caminhando na direção deles.  A orientação do guia era que eles passariam o todo dia por ali. Poderiam subir nas pedras algumas poucas vezes, mas que só voltariam a andar no final da tarde. Ansiosos com nosso primeiro encontro resolvemos sentar e esperar. Chuva, vento, sol, tudo junto e misturado naquelas 8 horas que passamos esperando até que eles começassem a caminhar novamente.

    Parque Nacional de Torres del Paine. Foto: Maria Emília Ganme.

    Com uma pontualidade britânica, às 17h em ponto (os metadados da minha câmera não me deixam mentir), a fêmea deixou a toca e se mostrou inteira para nós. Começou a caminhar pela borda do lago e uns duzentos metros a frente parou para chamar os filhotes. Os dois a seguiram calmamente. Parecia uma miragem. Caminharam até o ponto da beira do lago que seria o mais próximo à nossa posição. Ali, a fêmea se distanciou e os dois filhotes ficaram para trás fazendo todo tipo de brincadeira. Um pulando em cima do outro, brincando de esconde-esconde, enfim, “coisas de crianças”.

    Eu estava bem aconchegado em uma pedra, munido de uma lente 600 mm em cima de um tripé. Poucos metros à minha frente, estavam as fotógrafas Maria Emília Ganme e Elaine Moraes, com objetivas de 400 mm apoiadas nos próprios punhos.

    Num piscar de olhos porém, um filhote seguiu no rumo da mãe e outro saiu do nosso campo de visão. Todos seguimos mirando o pequeno puma que ainda era possível fotografar, até que duas orelhinhas surgiram bem na nossa frente! Me atrevo a dizer a menos de 6 metros, já que a partir do momento que ele subiu na bloco de pedras no qual estávamos, minha lente, que tem um foco mínimo de 5,5 metros, já não podia focar seus olhos. Com muita calma e orientados pelo guia, não nos movimentarmos e seguimos observando o filhote.

    Bem, pelo menos eu fiquei observando, enquanto Maria Emília e Elaine fizeram as fotos que ilustram o final desta história (respectivamente) sobre esse pequeno curioso felino.

    Parque Nacional de Torres del Paine. Foto: Elaine Moraes.

    O AUTOR

    João Marcos

    João Marcos Rosa

    Instagram @joaomarcosrosa

    Fotógrafo apaixonado pela cultura e vida selvagem. Jornalista por formação, João Marcos Rosa tem especial talento para contar histórias ligadas à biodiversidade e à conservação ambiental. Durante as expedições, busca compartilhar seu conhecimento e contribui para o desenvolvimento do olhar daqueles que o acompanham.

    LEIA TAMBÉM

    Ilhas Faroé: as paisagens dramáticas do Atlântico Norte

    Ilhas Faroé: as paisagens dramáticas do Atlântico Norte

    Fotografando a Aurora Boreal

    Fotografando a Aurora Boreal

    Explorando a Canon EOS R pelas paisagens surrealistas da Bolívia

    Explorando a Canon EOS R pelas paisagens surrealistas da Bolívia

    Quênia: essência da natureza

    Quênia: essência da natureza

    Whatsapp