O encontro se deu há muitos anos. Não posso dizer que me lembro, mas guardo em partes da minha memória que transcendem a possibilidade de acesso. Só sei que, quando me dei por gente, ela já estava ali e, desde então, é essencial para minha vida.
Os raios da manhã, ou mesmo as luzes da tarde formando buracos de sombra entre as copas das árvores, sempre atraíram meu olhar. Foi uma educação forçada: a janela do quarto me obrigava a observar aquela que, um dia, seria a minha segunda casa, onde me sinto à vontade, onde trabalho, onde busco interagir, conhecer e dar voz a quem vive ali.
A floresta entrou na minha vida sem que eu percebesse e se tornou meu habitat. Seja em terras alagadas na Amazônia, bosques espinhentos na Caatinga, trilhas úmidas entre as araucárias ou em meu quintal na Mata Atlântica, ela mexe comigo, me atiça, me provoca os sentidos todo o tempo.
Esse chamado foi o que me trouxe aqui e o que continua a me inspirar nessa caminhada incessante em busca da luz. Fotografar a floresta foi muito além do ofício: tornou-se minha sina, minha maneira de celebrar a vida. Encontrei ali o porquê da minha jornada e, por ter vivido boa parte da minha vida próximo à natureza, percebi desde cedo o desdém com o qual as florestas são tratadas. Foi fotografando as selvas que consegui impetrar a elas seu valor merecido.
Minhas primeiras expedições se deram perto de casa. As matas de Nova Lima foram meu laboratório. O simples fato de não ter compromissos editoriais ou com projetos naquela época me ofereceu uma liberdade para reparar sem pressa e absorver a essência do ambiente. Anos se passaram e a grande floresta abriu suas portas para mim. O sonho distante da Amazônia se apresentava. Me sentia um garimpeiro em busca do eldorado. Os dias de preparação, as leituras e todos os conselhos não serviram de nada quando adentrei o manto verde. A primeira noite dormindo na rede foi de insônia, tentando entender aquela sinfonia que se apresentava. O amanhecer me mostrou um novo mundo, uma nova dimensão.
Desde então foram muitos os encontros que me converteram em testemunha das transformações pelas quais esses ambientes passam. Os objetivos que começaram com missões de fotografar espécies ameaçadas, passaram por documentar pesquisadores, suas descobertas e naturalmente me conduziram a documentar o povo que habita essa matas. Com o tempo, fui percebendo a velocidade com que as árvores caiam e os pastos se expandiam.
Impregnadas de uma atmosfera densa, as florestas oferecem um mundo de oportunidades fotográficas. São texturas, formas, sombras e raios que incidem de todas as partes. Tentar traduzir esse enigma é um exercício de vivência e paciência constantes.
Texto e foto: João Marcos Rosa.